Entendemos que a autogestão na produção habitacional está conectada aos princípios de democracia, cidadania, autonomia, igualdade e justiça social, aspectos políticos que envolvem as relações sociais na sociedade.

Como trabalhamos

A equipe da Ambiente Arquitetura compreende a autogestão na produção habitacional, como resultado de longo processo histórico, além de uma das principais bandeiras dos movimentos de moradia.

A autogestão é considerada não apenas no aspecto de construção de moradia e gestão de recursos, mas também de espaços nas cidades, para que possam ser geridos pela população, pelas comunidades, na busca da construção de cidades sustentáveis e melhor qualidade de vida.

Compreendendo o fato de que as formas que o Estado tem de garantir os direitos da população são autoritárias e insuficientes, os movimentos opõem-se a elas, estimulando e influenciando a sociedade civil a buscar alternativas que impliquem realizar a gestão do espaço social, a autogestão das cidades e dos territórios.

Os movimentos de moradia também buscam romper com a ideia de favorecer grandes empresas com os programas habitacionais, como historicamente as propostas do Estado vêm estimulando. Para tal, organiza-se com profissionais parceiros dos movimentos, como é o caso da Ambiente Arquitetura, composta por profissionais que compartilham da luta dos movimentos sociais, e se diferenciam das grandes empresas, considerando que o objetivo principal desses profissionais é o acesso igualitário à cidade.

Esta parceria entre assessoria e movimentos possibilita também a participação de profissionais em todos os momentos dos processos autogestionário e de luta: elaboração de propostas para política habitacional, discussão dos projetos social e urbanístico, participação nas manifestações, nos atos políticos, nas articulações com o poder público e agente financeiro, nos encontros nacionais, estaduais e regionais organizados pelos movimentos, nas ocupações, enfim, na parceria com o movimento.

A participação das famílias dos movimentos nos processos autogestionários é fundamental e os profissionais da Ambiente Arquitetura não objetivam definir ideias padronizadas e/ou tutelar a participação das famílias presentes nos movimentos de moradia, ao contrário, as famílias participam do processo de construção de suas casas e também de construção de conhecimentos sendo elas, as protagonistas desse saber.

Como funciona na obra?

A obra, no sistema de autogestão, é administrada pelos seus participantes em regime de democracia direta, não há a figura do patrão. Todos os envolvidos participam das decisões em igualdade. Busca-se levar em consideração as diversidades culturais ou qualquer outra forma de diversidade nos processos autogestionários, assim, todas as famílias podem contribuir de acordo com suas potencialidades.

Enquanto forma democrática de organização, a equipe da Ambiente em parceira com os movimentos, utiliza-se da criação de comissões que irão atuar nos processos de obra, porém também nos espaços de participação dos movimentos e trabalho social. Alguns exemplos de comissões na organização para obra são:

  • Compras de materiais;
  • Contratações e administração de mão de obra especializada;
  • Alimentação;
  • Segurança dos trabalhadores na obra (contratados e mutirantes);
  • Segurança contra furtos;
  • Controle de presença e pontuação;

O que diferencia uma assessoria técnica de uma construtora/empresa convencional?

Em primeiro lugar o que diferencia é o já mencionado: a identidade politica com a luta dos movimentos.

Para cada projeto que a Ambiente Arquitetura desenvolve há diferenças, justamente porque há elementos de planejamento coletivos, em primeiro lugar e principalmente pela forma de organização dos movimentos de moradia, principais protagonistas nesses processos e em segundo, pelo envolvimento de profissionais com Identidade politica com a luta dos movimentos e os estímulos  à processos participativos na definição de projetos; etc.

Uma das lideranças que atua com a Ambiente, Maria das Graças do Movimento Habitacional e Ação Social (MOHAS) ao salientar a diferença entre o trabalho de assessoria técnica com escritórios de arquitetura convencionais ressalta:

 Eu não consigo deixar de comparar. É uma assessoria de escritório. TUDO DIFERENTE. Agora, eu to vendo essa comparação, to vivendo esta experiência e não é boa não, viu? Não é. Sabe, assim, aquela coisa humana. A diferença? É todo o carinho, […]. Em cada projeto que você vai, da Ambiente, é diferente um do outro. Não é aquela mesma coisa. E assim, as sacadas, tudo isso foi feito com o maior carinho. Tanto é que o Patrimonial, todo mundo que vai lá, ninguém diz que é uma obra de interesse social, arrumado, mobiliado… todo mundo quer morar lá, todo mundo quer morar (Depoimento de Maria das Graças, 2015).

O que diferencia o trabalho coletivo da assessoria técnica dos processos de trabalho de uma construtora é justamente o fato de priorizar a humanização das relações. Os profissionais buscam refletir sobre seu próprio processo de trabalho de maneira a superar os desafios e pensar ações coletivas, não mecanizadas; compartilhar as batalhas, conquistas e também de momentos de comemorações e festividades. Tudo isso resulta na qualidade dos projetos realizados por esta forte parceria.