A partir da década de 1980 se constituíram nas periferias de São Paulo os chamados movimentos de moradia, movimentos sociais de caráter popular que articulam famílias de baixa renda com o objetivo de obterem atendimento definitivo por programas habitacionais públicos. Se há uma singularização de família e um sentido
partilhado entre movimento e as políticas públicas habitacionais a respeito desse termo nos momentos de atendimento habitacional – unidade social a ser contemplada em uma unidade habitacional – isso não quer dizer que não haja uma multiplicidade de sentidos atribuídos a esse termo.
Com efeito, esta tese pretende levar a sério a utilização de família como um termo de uso constante e fundamental para os movimentos de moradia, a fim de analisar seus diferentes usos e sentidos e perceber seus efeitos e funcionamentos cotidianos e políticos. Busca-se igualmente explorar quais são as diferentes configurações familiares encontradas, como a composição, perspectivas e aspirações dessas famílias se combinam às ações dos movimentos e
como suas escolhas de onde e como morar podem influenciar seu atendimento habitacional. Foi possível perceber que casa, família, parentesco e outras relacionalidades são centrais para a atuação dos movimentos e se combinam de diferentes formas a práticas, saberes e discursos subsumidos no termo política. Além disso, uma série de atributos pessoais e coletivos, moralidades e reputações são indispensáveis para uma compreensão dos processos de atendimento habitacional das famílias pesquisadas.
Tese de Carlos Roberto Filadelfo de Aquino.
Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Antropologia Social.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques.